Porque não lemos? Combater a iliteracia (parte 2)

Temos vindo a desenvolver textos nesta coluna com o objetivo claro de combater uma certa iliteracia financeira que é transversal a toda a população portuguesa [1], sendo um dos problemas que enfermam a nossa democracia e a liberdade de escolha política e social, com especial enfoque na propaganda desinformativa, mas também com forte impacto nas finanças pessoais e no bolso de cada família. Mas isso será matéria para aprofundar noutro artigo.

A compreensão de um texto, a leitura e interpretação de uma notícia ou a apreensão expedita de subtilezas enganadoras de publicações digitais, mormente as que visam ludibriar os portugueses com realidades alternativas ou paralelas, depende, em primeiro lugar, da mais básica literacia da língua portuguesa. E isso começa na família e nos incentivos e exemplos de hábitos de leitura e passa pela escola e pela qualidade do ensino, sendo que hoje também não nos fixaremos na evolução das qualificações escolares dos portugueses.

Detemo-nos nesta crónica na análise da quantidade de livros que lemos, ainda que a leitura dos jornais seja de vital importância e um hábito mais enraizado nos portugueses, a leitura eclética de obras ficcionais ou técnicas deve estar no centro da nossa formação de vida. O mote é o encerramento do festival literário de Braga, o Utopia, evento que termina hoje e contou com inúmeros convidados do meio literário português, com o objetivo de fomentar a leitura.

Dados recentes, divulgados pela APEL [2] demonstram um aumento do número de livros vendidos em 2022 [3], vendas que atingiram um máximo histórico de quase 13 milhões de livros vendidos, tendo sido editadas mais de 20 mil novas obras. Saudemos este aumento nas vendas e na faturação das empresas do mercado livreiro, eles que tantas vezes traduzem e editam obras que seriam inacessíveis a muitos de nós. O problema reside na avaliação que estas vendas representam em hábitos de leitura, porque livros comprados, não são livros lidos. Para além da APEL, não há muitos estudos que sejam capazes de esmiuçar esta temática.

Um dos estudos recentes que mais polémica causou foi o da Fundação Calouste Gulbenkian em parceria com o Instituto de Ciências Sociais [4], cujo inquérito levado a cabo para avaliar os hábitos culturais revelou que 61% de inquiridos portugueses não leram qualquer livro impresso no ano de 2020, sendo uma percentagem muito superior à registada na vizinha Espanha onde apenas 38% tinha referido não ter lido qualquer livro. Há um longo caminho a percorrer para mudarmos os nossos hábitos de leitura e todos os eventos que o incentivem são bem-vindos.

Consta que Tchekhov, grande dramaturgo russo, já moribundo no seu leito, terá pedido champanhe como último desejo antes de morrer. Brindemos, pois, com um bom espumante, ao novel festival literário de Braga, para que se mantenha por cá muitos anos e ambicione apaixonar os Bracarenses renovando o gosto pela leitura.

2 Associação Portuguesa de Editores e Livreiros
4 https://www.ics.ulisboa.pt/sites/ics.ulisboa.pt/files/2022/inquerito_praticas_culturais_2020.pdf

Por Sérgio Gomes (Membro da Iniciativa Liberal)

Por Mário Queirós (Dirigente da Iniciativa Liberal e Professor do Ensino Superior)

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