Um pouco mais de azul

Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além
Para atingir, faltou-me um golpe d’asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Mário de Sá Carneiro, “Quási” 

Era uma madrugada fria e nebulosa na savana africana. O sol ainda não havia despontado no horizonte, e a erva alta balançava com o vento suave. Um grupo de hominídeos reunia-se à volta de uma fogueira crepitante, procurando calor e proteção. Entre eles, estava Alok, um jovem caçador de olhos penetrantes e corpo atlético. Bravo e inteligente, estava sempre pronto para defender a sua tribo e garantir a sua sobrevivência. Mas naquela madrugada, algo o inquietava. O ar vibrava com um presságio de perigo, e os seus pelos começaram a eriçar-se.

De repente, um rugido gutural ecoou na savana, gelando o sangue de todos. Um enorme leão, faminto e feroz, emergiu das sombras com os olhos fixos na tribo de Alok. O medo e o pânico apoderou-se daqueles hominídeos. Alguns paralisaram; outros fugiram a correr. Mas Alok não se intimidou. O instinto de defesa do grupo assumiu o controle do seu corpo. Instantaneamente, assumiu a liderança do grupo, agarrando num galho robusto, pronto para enfrentar o predador.

O leão avançou, rugindo ferozmente. Alok, de coração descompassado, ergueu o galho e gritou com toda a força, desafiando a besta. O rugido do leão e o grito de Alok ecoaram na savana num duelo de sons que representava a luta pela sobrevivência.

O leão, surpreso com a bravura de Alok, hesitou por um momento. Foi a deixa que Alok esperava. Com um movimento rápido e preciso, arremessou o galho contra o leão, acertando-lhe na cabeça. O animal, atordoado, ensaiou um movimento de recuo. Aproveitando a vantagem, Alok e a sua tribo, avançaram, gritando e batendo com os galhos no chão. O leão, confuso e ferido, decidiu recuar e desaparecer na escuridão da savana.

A partir daquele dia, Alok tornou-se um símbolo da força e da resiliência dos nossos ancestrais que enfrentavam os perigos da natureza com inteligência e determinação.

O nosso cérebro começou a desenvolver-se há mais de 500 milhões de anos. A primeira estrutura cerebral – o complexo reptiliano – ainda hoje permanece nos nossos cérebros. É responsável pelos instintos básicos de sobrevivência, como alimentação, reprodução e defesa.

Os sentimentos de tribo, como a identificação com um grupo e a lealdade aos seus membros, são também um produto da nossa evolução. Em tempos passados, viver em grupos era essencial para a sobrevivência. Os grupos forneciam proteção contra predadores, acesso a recursos e apoio mútuo.

Atualmente, temos um clube, que adoptámos em tenra idade; temos uma religião que nos foi incutida pelos mais próximos; escolhemos um partido ou uma ideologia da mesma forma que escolhemos o clube ou a religião; e seguimos um líder – o nosso bravo Alok que demonstrou ser capaz de nos defender contra os perigos da savana. Estes sentimentos remontam ao período Câmbrico, quando ainda nem sequer havia mamíferos no Planeta; mas foram essenciais para o homo sapiens ter conseguido chegar aos dias de hoje.

Porém, hoje são praticamente descartáveis. Não habitamos a savana africana e não existem predadores capazes de colocar em perigo a nossa sobrevivência. Felizmente, já muitas pessoas se aperceberam disso e, contrariamente ao referido acima, não têm clube, não têm religião, não têm um partido e não seguem um líder.

No dia 10 de março, percebemos que são uma minoria. Percebemos que o complexo reptiliano e os sentimentos essenciais à sobrevivência dos hominídeos pré-históricos, ainda afetam o comportamento da maioria dos portugueses. Em vários países europeus, a maioria dos habitantes já deu mais um passo no caminho da evolução.

Em Portugal, só nos resta pedir:

UM POUCO MAIS DE AZUL

 

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