Em Portugal, os jovens não saem de casa dos pais.
O salário médio dos jovens (25-34 anos) em 2020, em Lisboa, era de 947 euros líquidos [[1]]. Um apartamento T0 dificilmente se encontrava por menos de 700 euros. Juntando água, electricidade e comunicações, a despesa rapidamente ultrapassava os 800 euros, desde que fosse muito poupadinho.
Um jovem que quisesse sair de casa dos pais, ficava com 4,90 euros por dia após pagar a renda. 4,90 por dia para comer e vestir! E a viver num T0.
Bem, mas Lisboa é o local mais caro para habitação. Sim, é verdade. Podemos fazer as contas para outras localidades. Norte? Actualmente estima-se que os salários dos jovens sejam 150 euros mais baixos e no T0 pode poupar 150 euros em Braga. Portanto, ficamos na mesma.
É impossível sair de casa dos pais e a prova está nas estatísticas da União Europeia: em Portugal, os jovens esperam (em média) até aos 30 anos para sair de casa dos pais [[2]]. Ou seja, os jovens não chegam a sair de casa dos pais! Saem de casa dos pais já na meia-idade.
E que se passa nos nossos parceiros comunitários?
Na União Europeia, em média, saem quatro anos mais cedo: aos 26. Sendo que em vários países saem entre os 21 e os 22. Acresce que, infelizmente, a tendência em Portugal neste século, tem sido para este valor aumentar, enquanto que a média na Europa se tem mantido estável. Segundo Pedro Brinca, “Algo está mal na dinâmica, no enquadramento fiscal, legal, jurídico, do sistema de arrendamento, que faz com que as pessoas tenham medo de arrendar” [[3]].
No seguinte gráfico, o rendimento per capita está medido em percentagem relativamente à média da União Europeia em cada um dos anos de 2020 a 2022.
Podemos ver que quanto mais baixo é o rendimento per capita do país, mais anos ficam os jovens a viver em casa dos pais. Portugal está representado nos três pontos laranja para os anos de 2020, 2021 e 2022. Sim, somos dos países com mais baixo rendimento e em que os “jovens” mais demoram a sair de casa dos pais. Inclusivamente, em 2021 registámos o pior valor de sempre em todos os países da União Europeia: os “jovens” saem de casa dos pais quase com 34 anos!
Um dos países mais pobres da Europa, onde a política de habitação tem penalizado os mercados da construção e do arrendamento, obriga os jovens a adiar os seus planos de constituir família. Consequentemente, a população está cada vez mais envelhecida.
Solidariedade para com os idosos? Sim, claro.
E as crianças, senhor?
[[1]] Fonte: INE. 1290, subtraído da contribuição para a Segurança Social e do IRS retido na fonte.
[[3]] Economista, para a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Por Sérgio Gomes (Membro da Iniciativa Liberal)
Por Mário Queirós (Dirigente da Iniciativa Liberal e Professor do Ensino Superior)