Os arautos da desgraça

Já não dá mais para aguentar a cultura do medo. Acabámos de entrar na última etapa no combate ao vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19. Como sabemos isso? Vamos fazer um ponto da situação, avaliando a situação atual por comparação com a situação de há um ano.

1. Nos últimos dois meses de 2020, o número de infetados reportado estava relativamente estável, rondando os 4400. Em 2021 a média foi de 3800, mas neste caso, não houve estabilidade, pois por volta dos dias 21-22 iniciámos um salto para um crescimento exponencial.

2. Fechámos o ano de 2020 com 4121 infetados, já com uma tendência de crescimento, que iria culminar com o pico no final do mês de janeiro seguinte (dia 28) com 12 891. O ano de 2021 foi fechado com 19 555 infetados em plena explosão de valores, mas que denuncia já um abrandamento no crescimento [1].

3. Durante o ano de 2021, o impacto do reporte de infetados sobre o total de internados, apresentou um desfasamento médio entre nove e dez dias, com impacto considerável já a partir do oitavo dia. A mesma relação se verificou entre infetados e óbitos. Significa isto que a explosão de casos verificada por volta dos dias 21-22 de dezembro, já se deveria fazer sentir na quantidade de internados e óbitos nos dias 29-30 de Dezembro. Considerando esse desfasamento, os últimos quinze dias de infetados originavam 78% do seu valor em internados totais em 2020; em 2021, a proporção foi de 20%: sensivelmente uma quarta parte. A letalidade dos últimos quinze dias de 2020 foi 2,2% e a de 2021 foi de 0,3%: menos de uma sétima parte.

4. Durante o ano de 2021, o desfasamento entre internados totais e internados em unidades de cuidados intensivos (UCI) foi praticamente inexistente. Portanto, quando aumentava o número de internados totais, tendia a aumentar o número de internados em UCI no próprio dia, ou no dia seguinte. Esta relação alterou-se recentemente, coincidindo com o aparecimento da variante Ómicron, pois o número de internados totais aumentou a partir do Natal, enquanto o número de internados em UCI diminuiu.

5. Outra alteração relevante no final de 2021, deu-se ao nível da positividade. O número de testes realizados também disparou na segunda quinzena de dezembro para uma média superior a 180 mil por dia, enquanto em 2020 a média não chegou aos 15 mil. Comparando estes períodos, a positividade baixou de 10% para 3,7%.

6. Acresce que se compararmos os valores do pico da vaga de janeiro de 2021 com os atuais, então os óbitos eram de 15 vezes, os internamentos em UCI eram de seis vezes e os internamentos totais eram de sete vezes. Com um valor de infetados nove dias antes provavelmente equivalente (ou superior há um ano), conjugando as capacidades de testagem e as respetivas positividades.

7. Por fim, também os casos de óbitos e internamentos verificados, registam-se maioritariamente em pessoas que não foram vacinadas. Num país em que há excedentes de vacinas e a capacidade de inoculação teria sido capaz de vacinar as pessoas que se negaram a fazê-lo.

Posto isto, começa a ser impossível aceitar posições de defesa de uma suposta desgraça que ainda estaria para vir. Neste momento, a verdadeira desgraça consiste em mantermos a nossa vida espartilhada com o medo do bicho papão. Vacinas e cuidados de higiene (máscaras, desinfeção, distanciamento) estão à disposição de todos.

Está na hora de recomeçarmos a viver.

Mário Joel Queirós, Docente do Ensino Superior nas áreas de Economia e Finanças

 

Nota: Os valores referidos dizem respeito a médias móveis de sete dias, salvo indicação em contrário.

[1] Valores publicados no dia 1 de janeiro do ano seguinte.

 

Dinheiro Vivo, Link

03, Jan 2022

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