Um Natal Inflacionado para os trabalhadores

A etimologia da palavra Natal remete-nos para a ideia de nascimento, de um novo começo, uma nova oportunidade, um reativar da esperança. A época é, por isso, propícia a balanços e a avaliações de mais um ano cumprido nas nossas vidas.

 

Ary dos Santos já nos disse:

Natal é em Dezembro

Mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

É quando um homem quiser

 

Não deixa de ser curioso que estes meses sejam também onde mais estatísticas económicas são publicadas, a par das análises financeiras das empresarias nacionais e internacionais e de indicadores do cumprimento do Orçamento de Estado. O ano de 2023 foi muito intenso na expectativa criada pela divulgação dos dados da inflação e das taxas de juro. Todos esperavam o melhor, contando com o pior a cada trimestre.

Por estes dias, vivemos na azáfama das compras de última hora, numa correria de aquisições que esperamos serem responsáveis e ponderadas. Ainda assim, a famosa frase repetida por um amigo, “Um homem que trabalha um ano inteiro tem de conseguir pagar uma semana de férias relaxante e um bom bacalhau para o Natal”, faz bastante sentido. Desde o final de 2021 até Outubro do presente ano, a inflação fez os preços do consumo aumentarem cerca de 14%. Infelizmente, a inflação que se fez sentir em 2023 nos produtos da mesa de Natal esteve consideravelmente acima, como podemos perceber no seguinte gráfico:

 

O preço do pão pouco mais aumentou que a inflação, mas todos os outros bens encareceram bem mais, com grande destaque para as batatas, mas principalmente o azeite, que quase duplicou de preço.

Quando ouvimos falar de “inflação”, geralmente associamos à variação do IPC ou do IHPC[1], pois são indicadores que medem a variação de preços daquilo que representa o consumo médio das pessoas. Porém, não nos apercebemos que existem milhões de “inflações” – cada português tem a sua própria inflação. Por exemplo, para uma pessoa vegan, não lhe interessa saber quanto aumentou o preço da carne ou do peixe, pois não vai comprá-los; mas o preço desses bens está a ser considerado no IPC e no IHPC. E para além de cada português ter a sua própria inflação, ainda existe a inflação de todos os bens que foram produzidos em Portugal (Índice de Preços do PIB), e muitas outras inflações, dependendo do que estamos a estudar. Acresce ainda que os preços variam de forma diferente mesmo dentro de um território tão pequeno como é Portugal.

Conhecer o valor da inflação é importante para sabermos se estamos a ganhar ou a perder poder de compra. Por exemplo, em 2022 a inflação (medida pelo IHPC) foi de 8,1%. Se o seu salário aumentou menos de 8,1%, então o seu salário diminuiu, não aumentou[2]! Porém, se estiver a pagar a sua casa ao banco, estas contas não estão completas, pois o aumento da prestação não entra no cálculo da inflação. E com prestações a aumentarem 50% isso pode significar uma perda de salário real muito superior.

Os trabalhadores portugueses têm visto o seu salário real a diminuir pelo menos desde 2021. Mas há quem não possa queixar-se do mesmo, pois as suas receitas têm vindo a aumentar à custa do empobrecimento dos trabalhadores. Na próxima semana, vamos descobrir quem.

 

[1] IPC: Índice de Preços do Consumidor, calculado pelo INE para a economia portuguesa; IHPC: Índice Harmonizado de Preços no Consumidor, calculado pelo Eurostat, para cada uma das economias da União Europeia e também para a União Europeia e Zona Euro.

[2] Caso seja um “consumidor típico”.

 

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