Os recentes eventos políticos que resultaram na demissão do Primeiro-Ministro e na queda do Governo, contrastam com o discurso de glória de Fernando Medina na passada quarta-feira na votação final para o Orçamento de Estado para 2024.
Num discurso fortemente marcado por elogios e palmadinhas nas costas, o Ministro das Finanças ainda citou Paul Krugman quando afirmou que Portugal era uma “espécie de milagre económico”. Porém, enquanto que para o vencedor do prémio Nobel de Economia os motivos pelos quais Portugal é caracterizado desta forma não são alvo de estudo (uma vez que o próprio não sabe quais são), para Fernando Medina é evidente (e conveniente) que este milagre se deve às boas políticas do Governo português nos últimos oito anos. Se o ministro se refere ao aumento da carga fiscal para valores recorde, incluindo 2024, onde vamos poder contar com um valor de 38% do PIB, então sim, esta é uma política que permitiu ao governo arrecadar uma receita excedentária em relação à despesa pública.
Com uma governação que, de acordo com o Ministro das Finanças, nos permitiu “virar a página da austeridade”, acusando o PSD de ter iniciado esse capítulo em Portugal, contrasta, mais uma vez, não só com o próprio aumento da carga fiscal para um nível nunca antes visto, mas também com a realidade. Se se recordam não foi o PSD que iniciou este capítulo, mas sim José Sócrates com os primeiros cortes salariais na função pública, com o congelamento das carreiras dos professores e com o aumento das pensões e aumento do IVA de 21% para 23%. No entanto, esquecendo-nos agora do que pertence ao passado e focando-nos no presente, penso que o maior contraste de todos, no discurso de Fernando Medina, é o descontentamento geral da população e a degradação dos serviços públicos que não se alinha com a imagem de um país próspero e desenvolvido como a que é retratada. Saúde, educação, justiça e habitação são alguns dos pilares sociais afetados por esta governação socialista demasiado arrogante para reconhecer os problemas do país e na vida dos cidadãos, vangloriando-se com uma mão cheia de nada.
Entre todos estes contrastes e paradoxos, uma coisa é certa: O Governo falhou de forma mais evidente no domínio social, enfrentando o cidadão comum problemas como acesso a habitação, urgências encerradas nos hospitais, escolas com turmas sem professores em determinadas disciplinas, e muitos outros problemas que são consistentemente negligenciados.
Se com este governo foi quebrado o estigma de que governos socialistas não têm preocupação com as contas públicas, também deve ser quebrado o estigma de que governos socialistas têm uma preocupação e responsabilidade social acrescida, pois não foi isso que se verificou ao longo destes oito anos.