É inegável que Nelson Mandela será lembrado por ser um dos grandes negociadores dos nossos tempos. Relembramos que nunca colocou em causa os seus princípios, mas negociou com o Governo que aplicava o apartheid e o levou para o cárcere. Nos anos oitenta, quando já se encontrava preso, Mandela encetou diversas conversações com o então Governo sul-africano, com o intuito de garantir amnistias para os presos políticos e assegurar a participação de negros na condução dos destinos da África do Sul. Este processo de negociação culminou com a libertação daquele líder político em 1990 e com a revogação da legislação do apartheid. Foi assim que conseguiu evitar uma guerra civil e realizar uma transição para a democracia multirracial que sempre defendeu.
Encontramos em Nelson Mandela características como carisma, perseverança, pragmatismo e pensamento estratégico. Conjugadas conferiram-lhe um estilo de negociação implacável, persuadindo habilmente os seus. Em resumo, Madiba[1] deixou (entre tantos outros) o legado que pode haver concessões, sem abalar os principais princípios políticos.
Naturalmente, com este artigo não se pretende tecer qualquer comparação com uma das principais figuras da história, mas apenas transpor para a nossa realidade política princípios que nunca poderão ser postos em causa.
Actualmente temos à frente do nosso país o Governo do “Não, é Não” e é aceite, unanimemente, que será muito difícil cumprir a legislatura até ao final, dada a configuração da Assembleia da República.
A curto prazo, podemos assistir a um momento consensual, se se avançar para um orçamento rectificativo, que vai procurar dar resposta a diversas reivindicações sociais.
Depois desta aprovação, as matérias que não possam “fugir” à Assembleia da República, terão de ser negociadas medida a medida, parceiro a parceiro.
O ponto-chave será a aprovação do Orçamento do Estado para o ano de 2025.
Neste ponto, o Chega está a fazer depender o voto favorável de um acordo político com o PSD. O Governo já rejeitou liminarmente esta possibilidade. Por outro lado, o PS rejeita qualquer convergência ideológica.
Aqui chegados, a grande questão será: o Chega estará disposto a derrubar o único Governo de Centro-Direita dos últimos nove anos?
*O autor por opção não escreve segundo o novo acordo ortográfico.
[1] Esta era a alcunha carinhosa pelo qual Mandela era tratado.