O estado programador

Criar programas ad-hoc não é resolver problemas, é apenas confundir boas intenções com resultados. Como são inerentemente temporários, o esforço de criação não chega a ser valorizado.

O Slimani era feliz em Portugal, era bom no que fazia, mas sentia que merecia ganhar mais e lá decidiu partir à procura de oportunidades no estrangeiro. Em 2021, o Slimani pôde finalmente regressar a Portugal, graças ao benefício fiscal de 400 000 euros que lhe terá proporcionado o programa Regressar.

Embora circunstancial, esta história ilustra bem as contradições de um modo de governação que se propõe resolver todos os problemas do país com a criação de novos programas. A oposição queixa-se que os jovens estão a emigrar cada vez mais? Não há problema, cria-se um programa com o sugestivo nome Regressar, e se agora não voltarem já não é de certeza por culpa do governo. A gasolina está cara? Cria-se o AutoVoucher, e assim sucessivamente.

 Infelizmente, criar programas ad-hoc não é resolver problemas, é apenas confundir boas intenções com resultados. Cada um destes programas implica um enorme investimento na sua regulamentação, divulgação, estruturas de gestão e plataformas informáticas. É tudo novo, é tudo específico, é tudo feito à pressa, e o arranque é sempre lento e cheio de inconsistências. Como são inerentemente temporários, esse esforço de criação não chega a ser valorizado. Veja-se o exemplo do programa Emprego Interior MAIS, criado em 2020 para apoiar quem se quisesse fixar no interior, e que era para terminar no final de 2021. Quando eventualmente começam a ter alguma atividade, as agendas políticas já mudaram e está na altura de os fechar e lançar outros, mais alinhados com as tendências do momento. A exigência de candidaturas ou registos também garante que o sucesso será sempre limitado, porque os benefícios apenas irão chegar a uma pequena parte dos potenciais beneficiários. Em muitos casos, como o Regressar, é também uma barreira burocrática extra e que obriga os candidatos a expor e documentar o seu percurso de vida, para depois ficarem à espera de saber se o Estado os considera ou não merecedores do apoio pedido.

Uma política focada em resultados seria mais eficaz se apostasse antes na eliminação de barreiras burocráticas e em incentivos universais baseados em procedimentos simples e assentes em mecanismos já existentes para outros efeitos. Por exemplo, benefícios fiscais para contribuintes que passassem a ter residência fiscal em Portugal. Tudo isto pensado numa lógica de longo prazo que permita a sua plena consolidação e assimilação como políticas públicas credíveis e o seu ajustamento ao longo do tempo em função da evolução da realidade. Infelizmente esta alternativa é muito menos pomposa, não cria “jobs”, e não serve os objetivos de um governo obcecado com o anúncio de novos programas e cada vez mais preso na sua própria ilusão de que, sem um estado programador, Portugal seria um país parado.

 
 Rui José

Docente do Ensino Superior na área de sistemas de informação

in Observador, Lync

 

10-Jul-2022

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