Braga e o automóvel: O caminho para uma relação mais saudável

O automóvel é como um velho amigo tóxico. Há muito que sabemos que algo não está bem, mas é não é fácil admitir que esta é mesmo uma relação problemática. Como condutores, é cada vez menos satisfatória, com mais congestionamentos e com custos crescentes, seja nos combustíveis, nos impostos, no estacionamento, nas portagens ou nos próprios automóveis. Como sociedade, temos custos que preferimos nem ver, mas impossíveis de ignorar. São as mortes nas estradas, de condutores e peões, são as emissões de gases de estufa, são as mortes prematuras causadas pela poluição, estimadas na União Europeia entre 300 000 e 750 000 por ano, são os elevados custos das infraestruturas rodoviárias, e é também a ocupação excessiva do espaço urbano, restritiva de outras formas de mobilidade ou do simples usufruto dos cidadãos.

Claro que até com os amigos mais tóxicos é possível redefinir limites e criar uma relação mais responsável. O primeiro passo, e talvez o mais difícil, é reconhecer a necessidade de quebrar o círculo vicioso do automóvel, deixando cair a ilusão de que a solução ainda é investir em mais infraestruturas rodoviárias. Depois podemos começar a reinventar a relação, mitigando progressivamente os seus excessos mais nefastos. Isso implica partilhar mais as ruas com outros meios de transporte, dar mais espaço aos peões, limitar a circulação dos veículos mais poluidores, criar mais zonas pedonais, reduzir limites de velocidade ou diminuir o espaço público dedicado ao estacionamento. Esta transição é sempre difícil, mas podemos beneficiar da experiência de muitas cidades, um pouco por todo o mundo, que já deram esse passo há muitos anos. Sabemos que, após uma fase inicial de adaptação, os benefícios tornam-se evidentes e rapidamente se torna impensável voltar atrás. Não só aumenta a qualidade do espaço urbano, como ao contrário do que se imagina, o próprio trânsito automóvel recupera fluidez em pouco tempo. Ao libertar algum espaço para outras formas de mobilidade, aumenta-se a sua conveniência e eficácia. Com isso há mais viagens que deixam de ser feitas de automóvel, a eficiência global do sistema aumenta e todos acabam por ganhar, quer os que continuam a usar o automóvel, agora em estradas com menos carros, quer os que passaram a dispor de alternativas convenientes e seguras que lhes permitem não ter de usar sistematicamente o automóvel.

Aos cidadãos pede-se bom senso para entender porque que é que temos todos a ganhar com uma visão mais racional da mobilidade. Aos políticos com visão e sentido de responsabilidade pede-se uma liderança clara, informada e assertiva na definição das novas políticas de mobilidade e eficaz na gestão da mudança e na mitigação das suas consequências. Não vamos abandonar o nosso velho amigo, mas está na hora de aceitar que esta relação já não pode continuar a ser como dantes.

 

Por Rui José, Docente do Ensino Superior e Membro da IL indicado para o Conselho Consultivo da Mobilidade de Braga.

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