MORTES SILENCIOSAS

Segunda-feira já lá foi. Já lá foram mais que uma, até. A promessa de resolução (parcial) dos problemas do SNS para uma segunda-feira, faz lembrar D. Sebastião e a esperança de que o nosso rei regressaria um dia, numa manhã de nevoeiro, para salvar o país de todos os seus problemas.

Alguns dos problemas do SNS têm sido assunto diário dos órgãos de comunicação social, como por exemplo, o encerramento das urgências de vários hospitais. Sim, isso mesmo, o encerramento das urgências dos hospitais públicos, apesar das declarações da Ministra da saúde, Marta Temido, na Assembleia da República, referindo que “aumentámos a actividade de urgências, porque não deixamos ninguém à porta.[1]” Lamentavelmente, não deixam ninguém à porta, porque mandam as pessoas para outros hospitais. Mesmo que a consequência seja a morte de quem necessita de assistência, como já aconteceu!

As causas deste grave problema, tal como as causas das demissões de equipas médicas, das declarações desesperadas do governo a pedir às pessoas para não adoecerem nos próximos tempos, da falha de assistência médica ao nível das urgências, parecem ser a ponta do iceberg.

Primavera deste ano acabou recentemente, e foi a primeira Primavera em que nos esquecemos da pandemia. Ainda havia algumas leves restrições nos comportamentos sociais (como o uso de máscara em situações excepcionais), mas finalmente voltámos a viver como já não o fazíamos há dois anos.

Ou não...

Alguns de nós não a viveram totalmente. Porque faleceram antes de poderem desfrutar do primeiro Verão sem restrições. Sim, é verdade que todos os dias falecem pessoas e todos os anos há pessoas que não chegam ao Verão. Mas quando os números disparam relativamente aos anos anteriores, algo não está bem. Vamos dar uma olhada para números que não podem ser adulterados.

Fonte: elaboração com valores disponibilizados pelo Ministério da Saúde em 26/06/2022 em EVM.

 

Comparando esta Primavera com a média das Primaveras entre 2014 e 2019, vemos que houve um grande aumento do número de óbitos. É um facto! Tendo em conta que uma Primavera tem cerca de três meses, isto não pode dever-se a um fenómeno extraordinário que tenha acontecido em um ou dois dias, ou até em uma semana. Como é possível que o número de óbitos totais tenha aumentado 20%?

Mas vamos dar uma olhada ao que aconteceu ao nível das faixas etárias.

           

 

 

Fonte: elaboração com valores disponibilizados pelo Ministério da Saúde em 26/06/2022 em EVM.[2]

 

Até aos 85 anos, a mortalidade da Primavera deste ano apenas aumentou 8% relativamente à média dos anos anteriores (14-19). Mas a faixa etária das pessoas com mais de 85 anos registou um aumento de 38%! O dobro da média nacional.

Embora não seja possível afirmarmos que este aumento brutal de falecimentos das pessoas mais frágeis ficou a dever-se às graves falhas do SNS, a verdade é que esta é uma questão que merece ser respondida. Infelizmente, parece-nos que tal nunca venha acontecer. De todas as faixas etárias, estas mortes são as mais silenciosas, se calhar, porque já não se espera que estas pessoas vivam para além deste limite.

Mas sinceramente, quando chegar a sua hora, de certeza que o leitor gostava que o Governo olhasse para si com outra atitude.

[1] 13/01/2020

[2] Nota: a soma dos parciais é inferior ao total porque existem óbitos com idade desconhecida.

Mário Queirós e Olga Baptista

Docente do Ensino Superior nas áreas da Economia e Finanças (ISCAP). Dirigente da Iniciativa Liberal. Farmacêutica e coordenadora da Iniciativa Liberal Braga.

in Observador, Lync

31-Jul-2022

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