Das Kapital[1] , escrito no final do séc. XIX, veio trazer uma lufada de ar fresco a um sistema de organização da sociedade e da economia que começava a dar mostras de asfixiar o proletariado[2]. Os proletários estavam a ser explorados pelos capitalistas, que pagavam pela sua força de trabalho, valores no limiar da subsistência, impedindo-os de melhorar a sua vida – impedindo-os de apanhar o elevador social e perpetuando o ciclo de pobreza para os seus descendentes.
Poucos anos após a completa edição do livro, a revolução russa de 1917 começou a colocar em prática esta alternativa ao modelo capitalista de organização económica num novo país, abreviadamente conhecido por União Soviética (ou URSS). Apesar de a URSS ter colapsado em 1991, vários outros países foram adoptando este modelo que defende a melhoria do bem-estar dos mais desfavorecidos usando como meio a intervenção do Estado.
Quase todos os países que compunham a URSS e os que estavam sob o controlo desse país, acabaram por abandonar o sistema socialista que tantos benefícios lhes trouxe durante décadas, subjugando-se às forças do capitalismo. Cerca de 30 anos depois, como estarão esses países? Vamos comparar o rendimento per capita de alguns deles (dois ex-membros da URSS e dois que nunca estiveram integrados nessa “união”) com quatro países socialistas de que conseguimos obter estatísticas minimamente fiáveis[1].
Legenda: a vermelho, os países socialistas; a azul, os países ex-socialistas.
Como podemos constatar, os antigos países socialistas, que se entregaram ao capitalismo, têm o seu povo a ganhar entre 4 a 8 vezes o que ganham as pessoas dos países socialistas.
A ideologia de uma sociedade em que cada um deve contribuir conforme as suas capacidades e que cada um deve receber conforme as suas necessidades, é uma ideologia muito bonita. Moralmente à prova de bala! Mas na ânsia de redistribuir o bolo, os factos dizem-nos que o socialismo não tem permitido que o bolo cresça. O bolo até pode estar bem distribuído, mas anda a distribuir migalhas.
E quanto a nós? Desde 1974 (há 48 anos) que nós estamos no “caminho para uma sociedade socialista” – texto que podemos ler nas primeiras linhas da nossa lei fundamental, a Constituição da República. Não há engano! E se dúvidas houvesse, temos a confirmação da alternância no poder entre um Partido Socialista democrático e um Partido Social Democrata, bem como a classificação de “país socialista” que nos é internacionalmente atribuída.
Portanto, tudo se conjuga para que a prosperidade nos tenha caracterizado nas últimas décadas. Como podemos confirmar este sucesso? Vamos comparar-nos com os mesmos quatro países que abandonaram o socialismo há cerca de 30 anos.
Todos têm as suas populações com um nível de rendimento superior ao nosso. E mais importante que isso, TODOS têm taxas de crescimento superiores às nossas, o que significa que cada vez vão ficar mais distantes de nós.
Parafraseando Carlos Guimarães Pinto, “Diga-me um país em que o socialismo tenha sido um sucesso.”
[1] Relativamente à Coreia do Norte, é impossível obter estatísticas; relativamente à China, apesar de se dizer um país socialista, na verdade, já há muito que foi adoptado o regime capitalista, embora com forte controlo do Estado.
[1] “O Capital – Crítica de Economia Política”, livro de Karl Marx, como resposta às teorias clássicas sobre a economia, defendendo o autor que o capitalismo contém em si as sementes da sua própria aniquilação.
[2] A classe trabalhadora, que não conseguirá nunca acumular capital, que herdou esta alcunha porque se caracteriza por ter uma vasta prole – filhos, descendentes...
[3] Relativamente à Coreia do Norte, é impossível obter estatísticas; relativamente à China, apesar de se dizer um país socialista, na verdade, já há muito que foi adoptado o regime capitalista, embora com forte controlo do Estado.
Mário Joel Queirós, Docente do Ensino Superior nas áreas de Economia e Finanças,
Jesus Caldas, Engenheiro electrotécnico. Dirigentes da Iniciativa Liberal
in Dinheiro Vivo , Lynk
06/07/2022