Sabemos o que Rui Rio fez até ao Verão passado

Rui Rio ganhou as diretas do PSD e prepara-se, com toda a naturalidade, para tirar partido de um momento em que aparece com legitimidade renovada. Importa, todavia, trazer alguma racionalidade à análise do que foi o seu percurso enquanto líder do PSD, fazendo um balanço da oposição ao PS e ao Governo de António Costa que protagonizou e refletir sobre um aspeto ou outro do presente e do futuro próximo.

A primeira nota relevante nesse exercício é constatar que o PSD, sob a liderança de Rio, foi o parceiro preferencial do PS na atividade parlamentar durante a legislatura que agora termina. Cerca de 60% das iniciativas legislativas que os socialistas viram aprovadas mereceram viabilização por parte do PSD, valor muito acima do observado quer no que diz respeito ao Bloco de Esquerda, quer ao PCP. Os números não mentem. Mais do que os camaradas da Geringonça, foi o PSD de Rui Rio que andou boa parte do tempo de braço dado com o PS na Assembleia.

E foi ainda o PSD de Rui Rio que teve a iniciativa, verdadeiramente incompreensível do ponto de vista de um partido a quem cabia liderar a oposição, que poupou António Costa ao escrutínio desejável e necessário dos debates quinzenais, libertando-o da obrigação de prestar contas aos portugueses de forma regular e desvalorizando a relevância do Parlamento enquanto local onde se concretiza a democracia representativa.

Mas há mais. Foi também o PSD de Rui Rio que, de braço dado com o PS, cozinhou uma alteração na forma de nomeação das CCDR, validou a tese inédita em democracia e muito conveniente aos interesses socialistas do mandato único do Procurador-geral da República ou do Presidente do Tribunal de Contas, permitiu a flexibilização das regras da contratação públicas retirando ao Tribunal de Contas poder de intervenção ao nível da fiscalização, matou a legislação que visava regular a atividade de lobbying, impediu que se discutisse um novo enquadramento para as ordens profissionais, votou a favor da Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital cujo artigo 6º prevê, objetivamente, um mecanismo que abre a porta à censura patrocinada pelo Estado e nunca questionou os atropelos a direitos fundamentais que ocorreram, nomeadamente, durante os períodos em que esteve decretado o estado de emergência.

Para lá disso, e aqui por sua exclusiva iniciativa e perante alguma resistência do próprio PS, foi o PSD de Rui que avançou com propostas para os Conselhos Superiores das magistraturas que, a terem sido acolhidas, implicariam uma politização acrescida do Ministério Público e a sua submissão aos interesses instalados em cada momento.

Estes exemplos, que estão longe de ser exaustivos, revelam um PSD complacente, quando não colaborante, com um PS que executou uma estratégia declarada de ocupação do aparelho do Estado, que procurou promover, de forma mais ou menos óbvia, o silenciamento de todas as tentativas de controlo da avidez da máquina socialista e que deu passos concretos no sentido da satisfação das clientelas que alimenta. A tudo isto Rui Rio disse, repetidamente, que sim.

É este Rui Rio, e não outro, que se apresenta agora a eleições à frente de um PSD dividido e acompanhado das mesmas figuras pardacentas (José Silvano ou Adão Silva são os melhores exemplos) que tem tido ao seu lado neste percurso. Sabemos, e não podemos esquecer, o que Rui Rio fez até ao Verão passado. É muito difícil acreditar que faça agora coisas diferentes até porque, louve-se-lhe a franqueza, é o primeiro a afirmar a sua total disponibilidade para todo o tipo de entendimentos, viabilizações e cumplicidades com o PS.

 

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