Mensagem aos mensageiros

Nesta altura das festas de fim de ano, surgem os balanços e os desejos para um ano melhor. É nesta altura também que surgem as mensagens inspiradoras. E é nesta altura também que muitos se começam a chatear com tanta mensagem de paz e amor, e a vontade de bater no mensageiro eclode. Trago um caso onde, creio, temos mesmo de o fazer.

 

O caso

Tal como as cheias, os incêndios, a gripe a entupir urgências, e tantas outras coisas, também as mensagens dos políticos no final do ano são algo que temos por garantido. Outra coisa que temos por garantida, algures pelo meio de mais uma aborrecida mensagem de fim de ano, é o cínico mea culpa e a constatação de que “a mensagem não está a chegar aos Portugueses”. Se os destinatários são o “excelente povo Português”, se a mensagem é excelente também (assim o acham eles), o problema só pode estar no mensageiro.

Anualmente, vemos estes mensageiros (Presidente da República, Primeiro-Ministro, Presidentes dos Partidos, etc) sentados em frente a uma câmara, com um fundo natalício, a ler através do teleponto um texto muito batido, cheio de espaços comuns e ideias vagas.

Precisamos de mais. Precisamos de diferente.

 

Os mensageiros

Tanto na sugestão que aqui deixo, como no raciocínio que lhe subjaz, não estou a considerar os cenários das fake news e afins em que o mensageiro quer intencionalmente enganar os destinatários. Considero apenas o cenário “normal” em que o mensageiro tem mesmo uma mensagem, quer mesmo que esta chegue e que o destinatário a perceba, mesmo. Assim, acredito que pessoas de todos os quadrantes políticos se possam rever neste raciocínio pois aplica-se a políticos de todos os partidos democráticos.

Cada um que faça a sua análise e decida se deve ou não bater nos seus mensageiros. Ou seja, não sugiro que se ataquem “os outros”, mas sim que se exija mais “dos nossos”. E aqui fica uma primeira pista para o facto de a mensagem não estar a chegar. Mensageiros, deixem de apontar dedos aos outros e foquem a mensagem em apontar caminhos para os nossos. Queremos saber para onde ir. Não nos interessa para onde os outros não deviam estar a caminhar.

 

Os destinatários

Todas as estatísticas apontam no sentido de os Portugueses estarem cada vez mais velhos, as famílias serem cada vez menores e o número de pessoas a viver sozinhas ser cada vez maior. Vai-nos valendo a imigração para atenuar estes preocupantes números. Mas, enquanto não invertemos esta tendência, o que os Portugueses precisam é de perceber que vale a pena continuar a investir neste projeto comum a que chamamos Portugal. Os mais velhos não vão a lado nenhum, os mais jovens fogem para todo o lado. Demos-lhes as asas para voarem, mas não os motivos para ficarem e, quando os mais velhos já não existirem, também não terão raízes para onde voltar.

Não somos um povo particularmente instruído, mas somos capazes de entender se nos falarem de um futuro melhor e não de um presente sombrio. Temos fé, mas somos como Tomé, temos de ver para crer. E o que temos visto, é muito poucochinho.

 

Conclusão

Mensageiros deste país, dêem-nos algo em que acreditar, que nos faça sair de casa e ir votar, que nos motive a sair do sofá e envolvermo-nos nos processos de decisão, que nos faça querer assumir o controlo do nosso país e do nosso futuro. Este ano, por favor, não nos sirvam o mesmo discurso requentado dos outros anos. Tragam ideias novas para as nossas pessoas mais velhas. Para os mais novos tragam esperança. Este povo está sedento de algo em que acreditar. Dêem-nos motivos, para além do futebol, que nos façam voltar a colocar as bandeiras nas janelas.

No próximo ano teremos eleições autárquicas. Fica desde já o desejo de que as mensagens de fim de ano sejam o pontapé de saída para motivar as pessoas a ir votar. A redução da abstenção pode começar com boas mensagens de fim de ano. Contámos com vocês, mensageiros deste país.

Bom ano a todos!

 

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