A mobilidade urbana em Braga, uma das localidades mais dinâmicas de Portugal, continua sendo um dos principais desafios para os seus responsáveis políticos. Com um aumento significativo nas últimas décadas, a cidade observou um crescimento considerável nas suas necessidades de transporte, sem que políticas públicas eficientes seguissem essa tendência. Sob a administração alternada do PS e da coligação PSD/CDS/PPM/A, Braga lida atualmente com as consequências de longos anos de prioridades mal estabelecidas e estratégias inadequadas.
Braga, que possui aproximadamente 200 mil residentes (dados de 2023), é um dos principais centros urbanos do Norte do território. Com uma combinação única de história e contemporaneidade, a cidade recebe um crescente fluxo de jovens seduzidos pelas suas universidades e empresas de tecnologia. Entretanto, a infraestrutura de transporte não tem acompanhado essa agitação.
A cidade foi planeada para favorecer o carro, transformando-o no principal meio de transporte. Em 2021, estimativas indicavam que mais de 70% dos deslocamentos eram realizados de carro. Esta realidade contrasta com os objetivos de sustentabilidade ambiental e as práticas de mobilidade ativa incentivadas mundialmente. Nas últimas décadas, tanto o PS quanto a coligação Juntos por Braga não conseguiram estabelecer soluções permanentes para reduzir os impactos dessa dependência.
PS: Décadas de Controlo e a Preferência pelo Carro
Por mais de 30 anos, o PS comandou a Câmara de Braga sob a administração de Mesquita Machado. Durante esse tempo, a aposta na ampliação das estradas foi clara. Avenidas significativas, como a Avenida da Liberdade, ou o prolongamento da “Rodovia” transformaram-se em ícones da cidade. Entretanto, a prioridade dada ao carro particular ocorreu às custas de transportes públicos eficientes e de alternativas de mobilidade ativa, como faixas exclusivas para bicicletas e calçadas amplas.
O sistema de transporte público, administrado pelos Transportes Urbanos de Braga (TUB), continuou subdesenvolvido. A falta de inovação e de investimentos nas rotas que conectam os bairros periféricos ao centro ajudou a fortalecer a ideia de que o carro é a única alternativa viável. O planeamento urbano também necessitou de uma visão estratégica de longo prazo, resultando numa expansão urbana disjunta e fragmentada.
PSD: Compromissos e Restrições na Implementação
Com a vitória da coligação Juntos por Braga em 2013, sob a liderança de Ricardo Rio e do PSD, aguardava-se uma alteração considerável na forma de encarar a mobilidade. O PSD tomou o poder com promessas de tornar Braga mais sustentável e diminuir a dependência de veículos. Contudo, os resultados foram modestos.
Apesar da modernização da frota dos TUB e da inclusão de veículos elétricos constituírem um avanço, a sua frequência e a abrangência ainda são inadequadas, resultando em muitas áreas periféricas mal atendidas. A construção de ciclovias, uma das promessas da administração atual, gerou infraestruturas isoladas e de escassa utilidade prática.
Por sua vez, as diretrizes de estacionamento da administração vigente foram alvo de críticas por apresentarem contradições. Embora houvesse promessas de reduzir o tráfego no centro, a decisão do novo executivo em cancelar o aumento de lugares pagos acabou por incentivar o uso do carro.
As Repercussões de Anos de Negligência
A superlotação de automóveis nas vias de Braga resulta em engarrafamentos diários, principalmente durante os horários de ponta. Além disso, a poluição do ar e sonora cresce, prejudicando a saúde pública. A dependência do automóvel intensifica também desigualdades sociais, prejudicando os mais vulneráveis que necessitam de um transporte público ineficaz.
Uma Nova Perspetiva é Essencial
Para que Braga enfrente estes desafios, é fundamental um empenho colaborativo entre líderes políticos, sociedade civil e o setor privado. Um plano de mobilidade urbana integrado é fundamental, englobando melhoramentos no transporte público, desenvolvimento de ciclovias interligadas, áreas para pedestres atrativas e diretrizes de estacionamento que promovam o uso de transportes colectivos.
Aplicar recursos em alternativas como o Metrobus e em inovações que incentivem a partilha de veículos, pode ser uma abordagem criativa para minimizar o impacto ambiental e elevar a qualidade de vida dos moradores de Braga.
Somente por meio de uma estratégia sustentável conseguirá Braga avançar de forma significativa rumo a se tornar uma referência em mobilidade no século XXI.