O dia 25 de Novembro de 1975 tem enorme relevância na história contemporânea de Portugal. Representa o momento em que o país consolidou a sua trajetória democrática, ao pôr fim a um período de instabilidade política que ameaçava os ideais da Revolução de 25 de Abril de 1974. Esta data, muitas vezes subvalorizada, é crucial para compreender o equilíbrio entre liberdade e democracia em Portugal.
Depois do fim da ditadura do Estado Novo e da queda do regime autoritário, o país entrou numa fase de transição política marcada por profundas tensões sociais e ideológicas. O 25 de Abril trouxe a liberdade, mas abriu também caminho para disputas entre diferentes visões sobre o futuro do país. Grupos políticos, particularmente à esquerda, divergiam sobre o modelo de sociedade a implementar. Estas divisões atingiram o auge em 1975, no período conhecido como o PREC (Processo Revolucionário em Curso).
O PREC ficou marcado por ocupações de terras, nacionalizações de empresas e uma crescente polarização entre forças políticas moderadas, como o Partido Socialista , o Partido Popular Democrático (hoje PSD), e forças revolucionárias lideradas por setores mais radicais ligados ao Partido Comunista Português e a grupos de extrema-esquerda. A instabilidade foi agravada por divisões nas Forças Armadas, com setores próximos ao Movimento das Forças Armadas (MFA) a apoiar agendas revolucionárias que ameaçavam transformar Portugal num regime socialista de inspiração soviética.
O dia 25 de Novembro de 1975 tornou-se o ponto de viragem. Nesse dia, militares moderados, sob a liderança de figuras como Ramalho Eanes, António Ramalho e Jaime Neves, neutralizaram uma tentativa de insurreição das forças mais radicais. Este momento decisivo foi mais do que um confronto militar; significou a reafirmação da vontade de construir uma democracia pluralista, onde diferentes correntes políticas pudessem coexistir pacificamente. O impacto deste evento foi profundo. A estabilização do país permitiu que a Constituição de 1976 fosse redigida e promulgada, consagrando os princípios democráticos, os direitos fundamentais e o Estado de direito. Portugal iniciou um percurso de modernização e integração europeia, que culminou na adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986.
Apesar disso, o 25 de Novembro continua a suscitar debates. Para uns, simboliza o momento em que se salvou a democracia; para outros, representa uma “contrarrevolução” que travou as aspirações mais profundas de transformação social e económica. Contudo, é inegável que esta data garantiu a pluralidade e evitou que Portugal se tornasse um regime autoritário, ainda que de ideologia oposta ao Estado Novo.
Refletir sobre o 25 de Novembro é necessário para valorizar a democracia que hoje vivemos. A memória deste dia recorda-nos que a liberdade não é inabalável e exige vigilância e compromisso contínuos. A estabilidade democrática alcançada por Portugal não surgiu naturalmente; resultou de escolhas difíceis, nas quais o diálogo e o respeito pelas diferenças prevaleceram sobre o radicalismo. Por isso, o 25 de Novembro deve ser reconhecido como um dos alicerces da democracia portuguesa.