Ainda não se aperceberam?
A política a que estávamos habituados durante os últimos anos morreu!
E parece que poucos gostam de falar do assunto...
Para nos ajudar a entender melhor o que se passa em Portugal (e no mundo), vou enumerar quatro razões que podem tornar partidos, que antes considerávamos “indispensáveis à democracia”, quase irrelevantes.
Primeira razão: a influência da internet na política
Com a chegada das redes sociais, a forma como interagimos mudou drasticamente. As redes sociais são hoje o centro de partilha e recolha de informação. Há cada vez menos pessoas a ligar a TV às 20h para verem o telejornal e, por outro lado, há cada vez mais pessoas a recolherem informações na Internet e nas redes sociais. Os novos partidos estão a aproveitar para surfar nesta nova onda, apostando em conteúdo nas redes sociais para informar o seu eleitorado. Os partidos tradicionais, por arrogância ou incapacidade de mudança, continuam a usar a velha fórmula da TV. Um estudo de 2015 já indicava que as pessoas passavam mais tempo na Internet do que a ver TV. A juventude já quase não vê TV, quanto mais telejornais!
Segunda razão: a participação da juventude na política contemporânea
Para quem segue política há muitos mais anos do que eu, deve lembrar-se de jovens políticos, cheios de força e garra, que queriam mudar o país no 25 de Abril. Cinquenta anos depois, alguns desses políticos ainda estão no ativo. Onde antes eram jovens com vontade de um futuro melhor, hoje são idosos sem ideias atuais e sem vontade para pensar no futuro. Quem viu o último debate de Joe Biden vs. Donald Trump percebe que todos temos de saber qual é a nossa hora de sair.
Segundo dados da RTP, a idade média dos deputados da Assembleia da República é de 53 anos para o PCP, 50 anos para o PSD, 49 anos para o PS e Chega, 43 anos para o PAN, 39 anos para a IL, BE e Livre, e uns chocantes 61 anos para o CDS! Temos 95 deputados com idades entre 50 e 64 anos e 13 deputados com mais de 65 anos. Apenas 6% dos deputados têm menos de 35 anos. Como poderemos fazer políticas novas com os mesmos políticos? Os partidos devem rejuvenescer os seus quadros sob pena de os mais jovens deixarem de se identificar com os atuais políticos.
Terceira razão: a credibilidade dos políticos portugueses
“O povo tem memória curta” é uma frase que ouvimos tantas vezes nos últimos anos. Esta frase, embora não assumida pelos partidos tradicionais, é muitas vezes utilizada na prática. Promessas eleitorais deixadas na gaveta, ou até o seu inverso, foram constantes nos últimos 50 anos, muitas vezes usando o anterior governo ou a “conjuntura” como desculpa. Surgiu, no entanto, uma nova máxima que contraria a anterior: “A Internet nunca se esquece”. Nunca foi tão fácil verificar se alguém prometeu algo que não cumpriu ou se deu o dito por não dito. Os partidos que continuem a usar a tática da promessa eleitoral barata e, depois, deixem-na na gaveta ao entrar em funções, pagarão um preço muito mais elevado. As pessoas podem até continuar com memória curta, mas a Internet lembrar-lhes-á das promessas falhadas dos partidos antes de votar.
Quarta razão: a emergência de novos partidos em Portugal
Até 2015, na hora de votar, as pessoas tinham poucos partidos representados na Assembleia da República. Tinham de escolher entre PS, PSD, CDS, BE e PCP e, por vezes, acabavam por votar em partidos que não os representavam completamente. Atualmente, com o surgimento de novos partidos em todos os quadrantes, as pessoas podem optar por caminhos diferentes. Há alguns anos, quem era de esquerda radical e europeísta, tinha de escolher entre o PCP/BE, que são contra a UE, e o PS, que é mais “ao centro”, mas europeísta; agora existe o Livre. Da mesma forma, um progressista que defendia menos Estado na economia, estava condenado a escolher entre o progressismo do BE ou as políticas económicas do PSD/CDS; agora existe a IL.
Concluindo, não sobrevive o mais forte, nem o mais inteligente. Sobrevive sempre, quem tem melhor capacidade de se adaptar, e quem continuar a basear-se no passado, irá fazer parte dele.