O seu crédito habitação está em 120 mil euros e faltam ainda 25 anos para acabar de ser totalmente pago. No espaço de 12 meses a sua prestação subiu de 450 para 670 euros: mais 220 euros por mês. E espera-se que não fique por aqui, pois é capaz de subir mais 100 euros por mês se o BCE decidir continuar a subida dos juros e chegar aos 5% aquando da nova revisão da sua prestação.
Isto está a acontecer porque quando contratou o empréstimo, a taxa de juro acordada foi a Euribor anual com um spread de 1,5 p.p. Em Dezembro de 2021 estava a suportar uma taxa efectiva de 1%. Agora está a suportar uma taxa de 4,5%.
Acontece que neste momento tem uma poupança de 20 mil euros que foi conseguindo amealhar e, como pode optar por amortizar o seu crédito habitação sem custos, já se lembrou de utilizar esse valor com esse objectivo.
Deve fazê-lo?
Vamos comparar valores.
Se está a pagar uma taxa de juro de 4,5% e a poupança está a render menos que isso, por exemplo, 1%, então vai ficar a ganhar com a diferença. E ganha ainda mais quando a taxa de juro do crédito habitação subir para 6%. A primeira questão a colocar é, deve amortizar o crédito habitação perante estas condições? A resposta pode não ser afirmativa. Por dois motivos, que estão relacionados com o prazo do crédito, os 25 anos. É que, se amortizar, vai deixar de ter esse valor em crédito durante os próximos 25 anos.
E quando necessitar de adquirir um frigorífico ou um automóvel, vai ter hipótese de pagar a pronto, ou vai contrair um crédito ainda mais caro do que o crédito habitação? “Mas então eu vou estar a financiar o carro com o crédito habitação caso não amortize agora o crédito habitação?” Não! O crédito habitação, tal como outro qualquer, deve ser mantido durante o período de vida útil do bem que está a financiar e desde que haja capacidade financeira para o pagar. Amortizando-o, necessitando depois de contrair um crédito mais caro por esse valor, seria um erro.
A segunda questão é, e quando baixar a taxa de juro? Desde 1999 até hoje, a Euribor anual já teve uma variação de 6 pontos percentuais, tendo atingido máximos nos anos 2000 e 2008, podendo voltar agora a esses níveis. Mas ainda há pouco estava em terreno negativo.
A Euribor a 1 ano apresentou esta evolução:
Portanto, daqui a 10 anos, em que valores vai estar? É de esperar que volte a valores inferiores aos actuais e o custo do seu crédito baixe significativamente – não só porque a taxa de juro vai baixar, mas também porque baixará o capital em dívida, originando menos juros a pagar. Porém, se a sua aplicação financeira está a render mais de 4,5%, claramente ficará a perder se amortizar o empréstimo. Mas em quanto é que vai baixar a sua prestação mensal? Cerca de 110 euros. A questão que deve colocar é, será que, mesmo perdendo dinheiro, tem de amortizar o crédito habitação porque esses 110 euros fazem falta no orçamento? Será que compensa levantar uma parte dessa aplicação para fazer face às suas despesas mensais?
A história não fica por aqui. Se amortizar parcialmente o crédito habitação, o custo do seguro de vida associado também vai baixar. O que permite uma poupança acrescida nas despesas mensais. Pois sim, mas fica sem o seguro de vida – fica sem este serviço (que esperemos nunca vir a utilizar, mas...)
Há ainda mais uma variável a ter em conta: o risco da aplicação financeira. Vai ser quase impossível obter uma aplicação financeira sem risco que proporcione uma remuneração sequer semelhante à Euribor mensal acrescida do seu spread. Portanto, as contas que andámos a fazer, na realidade, deveriam ser ajustadas ao risco, ou seja, à remuneração da sua aplicação deveremos retirar o prémio de risco, baixando ainda mais a sua remuneração.
Complicado?
É fazer as contas!