Décadas Perdidas: Ser radical embrutece o coração, mas pior que isso embrutece o cérebro (Parte 1)

Uma forma de radicalismo é a apatia socialista de que somos vítimas, cujo ímpeto reformista de tão raro que é, quando surge é dotado de um radicalismo desproporcionado e que só vislumbra soluções colocando mais Estado em cima do cidadão. No plano Mais habitação, metas e objetivos ficam por definir (quantas casas ficarão disponíveis?) e o diálogo com as autarquias pouco existiu. Regular o alojamento local não deveria significar acabar com ele. O Estado cria mais um monstro burocrático cuja regulação só será fácil aos olhos do entusiasta radical ideológico.

A desconfiança surge, não pela inovação, mas pelo modo de anunciação de quem prefere ser governante sem deixar história. O Primeiro-ministro do “habituem-se” radical surge agora radicalmente humilde dizendo que “espero que daqui a 30 anos ninguém se lembre da minha existência”. Como é possível ter confiança perante estas declarações?

Em Portugal falta ambição e cultura de exigência. Tal como Agostinho da Silva diria “uma lista dos defeitos dos portugueses devia levar o político inteligente a elaborar um projeto de sociedade em que eles passassem apenas a ser características, ou quem sabe se qualidades”. Por isso digo sem meias palavras falta inteligência a quem nos governa para definir um rumo que nos conduza finalmente à verdadeira liberdade.

Essa liberdade só acontecerá quando um governo demonstrar ser capaz de gerar crescimento económico sustentado. Julgo que só acontecerá quando existir, sem medo, uma verdadeira promoção da iniciativa privada e um Estado que, ao ser menor, pode ser mais bem gerido e ser mais eficiente.

Deste modo, a solução na Saúde poderá existir em acreditar que o setor privado e social podem ser complementares do SNS. O direito à saúde é uma garantia salvaguardada na Constituição, mas a rapidez de acesso é crucial para este direito ser respeitado. Mais e melhor saúde pública, independentemente do prestador, é necessária para se garantir esta rapidez. Exigir que o compromisso seja da responsabilidade do SNS é uma teimosia radical que não coloca no centro do sistema o cidadão doente. Reformular os modelos de gestão hospitalar e dar liberdade de escolha regulando os custos envolvidos para o doente independentemente do prestador, poderia ser melhor, mais justo e barato para todos.

Diversos estudos salientam que as duas características mais valorizadas num médico são a sua competência e a sua empatia, que nos tempos atuais exige trabalhar em parceria com o doente. A disponibilidade para prestar os melhores cuidados não dependem do sistema ser público ou privado mas do fator tempo tantas vezes negligenciado pelas administrações hospitalares públicas e privadas. A lentidão do público ou a alegada, e por vezes excessiva, rapidez do privado, poderão traduzir ambas insuficiências de recursos humanos e técnicos pelo facto de os dois polos de atividade competirem entre si no modelo atual e não trabalharem em conjunto como um todo para oferecer a panacea, mas sim numa lógica de prestação quando as insuficiências de um setor empurram para o outro.

A melhor panacea depende da prevenção, da qualidade e rapidez de resposta e da dignidade dos cuidados oferecidos. Regular a sua oferta é um imperativo nacional, abrindo mais portas que resolvam problemas (ex: reforçar os cuidados domiciliários e paliativos) e questionando investimentos que os aumentam e são falsas seguranças (ex: SNS24).

 

Por João Nascimento, Médico e Membro da Iniciativa Liberal

 

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