Tal como muitas outras cidades, Braga não tem metro e os Transportes Urbanos de Braga (TUB) têm rotas tipo “teia” em que, muitas vezes, para ir de um lugar a outro têm de se apanhar um autocarro para o centro e aí mudar para outro até ao destino final. Isto faz com que um percurso que de carro demora 10 minutos, possa levar mais de uma hora a realizar se formos de autocarro. Se a isto juntarmos o facto de haver muitos locais onde os autocarros passam com intervalos de quase uma hora, torna-se muito difícil que estes sejam uma alternativa viável ao carro, sendo muitas vezes bem mais rápido fazê-lo de bicicleta.
Desde há uns anos que tento deslocar-me por outros meios no meu dia-a-dia e tem sido um desafio “interessante”…Não vou falar acerca da inexistência de ciclovias decentes. Todos dias vemos (e com razão) artigos, posts e comentários nas redes sociais a relatar as carências que temos…
Temos também imensos artigos com relatos e queixas acerca do comportamento dos ciclistas ou de quem anda de trotineta e das multas de que estes começam a ser alvo. Concordo que devem ser sancionados alguns comportamentos que por aí se veem. Sinceramente acho um verdadeiro milagre que não haja mais acidentes, tendo em conta que qualquer pessoa pode alugar uma bicicleta ou trotineta e circular sem a mínima experiência.
Mas aqui paga o justo pelo pecador, tendo em conta que nas cidades há imensas lacunas de ciclovias e que algumas estradas são muito perigosas para circulação. Qual o problema de circular nos passeios desde que o façam reduzindo a velocidade e dando prioridade aos peões? Quando em trabalho vou para outras cidades tento sempre ir de transportes públicos e lá me desloco de bicicleta, trotineta ou segway. Nunca em nenhuma cidade algum agente da autoridade me interpelou por andar pelos passeios pois faço-o com bom senso, nada mais…
Outro grande problema prende-se com conciliar transportes públicos com o transporte de veículos pessoais. Há comboios que não permitem transporte de bicicletas ou que têm disponibilidade limitada para estas… Nos autocarros o cenário pode ainda ser pior pois o motorista pode exigir que esta seja “embalada” para colocar na mala. Ora, se uma pessoa vai de bicicleta até ao autocarro, como a pode embrulhar para a colocar no meio das malas? E depois, ao chegar ao destino vai deitar todo o plástico de embrulho ao lixo para voltar a circular de bicicleta? Estão a ver o trabalho e desperdício? O bom senso deveria imperar e apenas ser necessário acondicioná-las devidamente entre o resto das malas…
Um dos maiores problemas para quem quer utilizar estes meios não poluentes como meio de transporte do dia-a-dia é o facto de não haver locais seguros para os estacionar. Este é um enorme fator dissuasor na sua utilização pois ficamos sujeitos a que sejamos furtados num ápice… Há uns tempos comprei uma bicicleta elétrica para o miúdo levar para a escola e assim não ter de o levar de carro. O que pareceu uma boa ideia resultou em nada pois percebi que esta teria de ficar estacionada na rua. Porque as escolas não colocam estes lugares na parte interior junto dos funcionários que controlam os acessos? Uma vez ia entrar numa loja do Cidadão com o segway pela mão e o segurança diz-me que não posso entrar, ao que lhe questionei: “Você toma conta dele? Então tenho de entrar com ele…” e lá imperou o bom senso…
Também já me sucedeu estacionar a bicicleta em frente a uma loja de rua e passar uns belos minutos “com o coração nas mãos” a fazer as compras à pressa esperando que no final ela ainda estivesse no mesmo local…
Nos locais de trabalho, este problema é relativamente simples de resolver. No entanto, em estabelecimentos públicos, locais de lazer, serviços ou supermercados deveria haver um lugar minimamente seguro para estacionar e assim tornar viável uma ida sem carro…
Nos últimos anos temos assistido um enorme aumento de compras de bicicletas, tendo na pandemia a venda de bicicletas aumentado 500%! Agora vejamos, destes milhares de bicicletas e trotinetas vendidas, quantas são utilizadas como meio de transporte no dia-a-dia?
Numa altura em que os problemas do ambiente e mobilidade são tão debatidos, temos de encarar as soluções tendo em conta todas as variáveis para que estes veículos não poluentes deixem de ser exclusivamente de lazer e sejam utilizados como uma verdadeira alternativa de transporte para assim se deixar o carro em casa!
Filipe Silva, Informático e membro da Iniciativa Liberal