O DÍZIMO

Há um ano, no segundo dia de Janeiro de 2022, a D. Célia foi às compras e levou o
carrinho cheio com produtos de alimentação e bebidas, mas também artigos de higiene e limpeza.
Gastou 100 euros. Exactamente um ano depois, o mesmo carrinho e as mesmas compras, mas a
despesa é de 110 euros (1). Estes valores são divulgados mensalmente pelo Eurostat e permitem-
nos perceber de que forma o nosso poder de compra sai afectado pela inflação. Se os
rendimentos da D. Célia não se tiverem alterado no espaço de um ano, ela terá perdido quase
10% de poder de compra – a inflação de 2022 obrigou a D. Célia a pagar o dízimo mesmo contra
a sua vontade.

Em 2023 os funcionários públicos irão ter um aumento médio do seu ordenado de 3,6%.
Se a D. Célia for uma trabalhadora do Estado passa a ter um ordenado que lhe permite abastecer
o carrinho de compras apenas com 103,60 euros. Mas o carrinho que ela comprou há um ano
custa agora 110,00 euros. O seu ordenado baixou 5,8%. Isso é equivalente à perda de quase um
mês de ordenado. Até faz lembrar os anos da Troica, em que a bancarrota do Estado português
obrigou a cortar temporariamente dois ordenados aos funcionários públicos.
Cortar temporariamente.
Porque à medida que o espectro da bancarrota se foi afastando, os ordenados dos
trabalhadores do Estado foram sendo repostos.
O Banco de Portugal, no seu relatório de Dezembro de 2022 (2), prevê uma inflação de
5,8% para 2023. A ser verdade, daqui a um ano o carrinho de compras da D. Célia vai custar
116,40 euros. Para que o corte de ordenados da função pública em 2023 seja reposto em 2024,
terá de haver um aumento de 103,60 para 116,40:
Em 2024, a função pública deve ser aumentada em 12,4%!
E isto apenas para manter o mesmo nível de vida que tinha dois anos antes. Nem sequer
estamos a tentar melhorar um bocadinho que seja...
Há quase 12 anos, o PS mergulhou-nos numa bancarrota. Neste momento, o mesmo PS
está a penalizar os seus trabalhadores com cortes salariais tal como se a bancarrota tivesse
voltado. Será que o corte nos ordenados vai ser temporário e os ordenados vão ser repostos em
2024? Ou será que os trabalhadores do Estado vão perder um ordenado para o resto da sua
vida?
“Dizimai irmãos, dizimai!”

Notas:
(1) O “carrinho de compras” está, neste exemplo, extremamente simplificado. Para percebermos o
que é um “carrinho de compras” deveremos consultar a definição de Índice Harmonizado de
Preços no Consumidor.
(2) O Banco de Portugal é uma instituição totalmente independente do Governo e tem uma equipa
que é a nata da nata dos economistas portugueses. As suas previsões têm-se mostrado
altamente fiáveis(?), bastando recuar um ano para comparar a previsão da inflação para 2022:
1,8%!

 

Mário  Joel Queirós, Docente do Ensino Superior nas áreas de Economia e Finanças,

in Correio do Minho,

 

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