Rico em livros e pobre em sonhos. Ou o contrário?

Benjamim Franklin, célebre inventor do séc. XVIII e um dos líderes da Revolução Americana, proclamou uma vez que a “alegria torna o homem pobre, rico; o descontentamento torna o homem rico, pobre.” Desconheço a sua relação com as classes sociais da época, e sou ainda mais alheio ao seu processo de aquisição de manuais escolares da altura, mas é algo dele – e do que aqui transmite – que nos leva até hoje, dezembro de 2022.

E porquê, questiona o caro leitor? Porquê é que Benjamim Franklin e manuais escolares estão na mesma frase? Porque em 2022, e cerca de trezentos anos depois, o rótulo de pobre e rico é hoje interpretado de forma tão linear e absoluta, num raciocínio tão rijo, que nos chega a provocar uma certa nostalgia pela vertente lírica da Floribella, que alimentava - na altura - a riqueza com os seus sonhos, amigos e amor verdadeiro.

O que é ser rico, então? Receber um salário que chega aos cinco dígitos? Possuir um carro de luxo? Quais são os verdadeiros critérios que podermos aplicar ao conceito de riqueza e pobreza numa sociedade contemporânea e ocidental em que vivemos, como se não existisse mais nenhuma camada pelo meio? No meio de tanta dúvida, talvez os nossos deputados tenham encontrado a fórmula perfeita para determinar se somos ricos ou pobres: perceber em que escola estão os nossos filhos.

E esta fórmula não são só é adotada, como é repetida de forma insistente. Na passada sexta-feira, na Assembleia da República, foram reprovados os três projetos de lei (um da Iniciativa Liberal) que propunham alargar a gratuitidade dos manuais escolares aos alunos dos estabelecimentos de ensino do setor privado e cooperativo. Uma medida que é de certa forma, revertida a nível municipal, e de forma muito positiva – em Braga são reembolsados os manuais escolares aos alunos do ensino privado do 1º Ciclo do Ensino Básico – mas que a nível nacional, infelizmente, não encontra oposição. 

Quando a distribuição gratuita de manuais escolares a todos os alunos do ensino público é por si só uma medida que carece de algumas dúvidas, o contrário aparentemente não encontra hesitação: segundo a esquerda do Parlamento, no setor cooperativo não há filhos de pobres, nem há famílias que, por diversas razões, geográficas ou familiares, façam enormes sacrifícios para ter os seus filhos num colégio.

Estas certezas dogmáticas (im)possíveis de serem contestadas irão alimentar, inevitavelmente, um conceito de realidade perversa e eclipsar uma realidade que custa em ser confessada, mas que continuará a acontecer: existem hoje alunos nas escolas públicas que terão manuais gratuitos sem necessidade absoluta, e alunos pobres do ensino privado que terão de pagar pelos mesmos, com grande dificuldade.

O mais surpreendente é que que o tom superlativo de ironia nesta história nem está propriamente demonstrado nos parágrafos acima apresentados, como tentei aplicar sem grande estilo. A ironia está presente precisamente quando percebemos quem representam os deputados que chumbaram a dita proposta: PS, Bloco de Esquerda, PCP e Livre. Deve a educação dos nossos filhos ser a base de um argumento governativo de que ou estamos com o Estado, ou estamos por nossa conta? Devemos continuar a premiar o ensino público e a diabolizar tudo que está relacionado com o Ensino Privado, prejudicando os próprios alunos de cada lado?

A verdade é que Benjamim Franklin já não está connosco. Mas enquanto ele assinava a declaração de Independência, em 1776, adoraria contar-lhe a nossa perceção de ricos e pobres. Acredito que ele ficaria surpreendido, não com os nossos manuais escolares, mas provavelmente com a nossa pobreza de espírito.

 

Fernando Costa,

Gestor de Comunicação e Representante da Juventude da Iniciativa Liberal de Braga

in Correio do Minho, 

06-Dez-2022

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