A Clubite dos 25

Ao longo das nossas vidas, e das vidas que contemplamos nos outros, somos gradualmente habituados a lidar com as crises de meia-idade, com a inocência dos vinte, com a experiência dos cinquenta, e com outras tantas marcas indiretamente relacionadas com a faixa etária do ser humano e os padrões biológicos e comportamentais associadas a cada uma delas. Mas há mais uma referência cronológica ilustrada por números de um (velho) novo fenómeno que acaba por se evidenciar no espetro político português: a clubite dos 25.

Assumindo a ausência de qualquer habilitação académica em ciências políticas - o que não obriga a que esta observação não passe inevitavelmente de um palpite - as datas históricas de Portugal diretamente ligadas à Democracia em que estamos hoje, não sofrem apenas uma coincidência numérica tremenda, mas também de um processo quase clubístico, na forma como os dois eixos políticos em Portugal teimam em tomar partido por cada uma delas, criando um falso direito de propriedade em duas datas que dependerão sempre uma da outra. Por mais que custe a algumas pessoas.

Falamos do 25 de abril e do 25 de novembro, naturalmente. A primeira, já consagrada desde a sua origem, e que levou ao fim do Estado Novo, levará sempre com uma eterna sensação de propriedade absoluta da ala mais à esquerda, tanto nos seus festejos como nos seus costumes. Como se parte dos portugueses não tivessem o direito de festejar uma data que é, obviamente, de todos eles. Uma data que permitiu precisamente que (até) hoje exista uma “esquerda” e uma “direita”: devido à chamada Democracia. Um termo que por mais que seja relativizado com uma dose quase bélica de nostalgia por certas entidades políticas, nunca sofrerá direito de contestação.

Depois, o 25 de novembro. Uma data que marca um movimento absolutamente fulcral para a estrutura social e política que temos hoje, e que acabou com o chamado PREC num período de enorme incerteza, e que impediu igualmente que alguns dos revolucionários de 1974 criassem outro estado ditatorial no ano seguinte. Ambas as datas são impossíveis de resumir num breve parágrafo, mas a verdade é que a última é ainda hoje muito dificilmente reconhecida pelo país, em comparação com a primeira, devido à esforçada narrativa de que nesse período, nos livramos apenas de uma ditadura em Portugal. Infelizmente, não é verdade. Mas já não é isso que está em discussão: é a dificuldade em assumir isso de forma adulta.

E é difícil de assumir devido aos equilíbrios políticos que se mantiveram depois desse período, e porque, infelizmente, ainda temos muita dificuldade em admitir de forma pública que num processo histórico, existem pessoas com boas intenções e outras com más intenções. Uma conduta que reforça, por consequência um desconhecimento alheio de um marco demasiado importante para ser “clubitizado”.

Sem qualquer sentido de autoridade intelectual, acredito veemente que devemos olhar para a nossa democracia de forma imparcial, sem medo de ferir partidos ou personagens históricas, e percebendo que os processos revolucionários devem ser contextualizados dentro do tempo em que ocorreram. Não devemos privar os jovens (principalmente) de saber e de aprender algo tão importante na história recente do nosso país, por medo de que outras datas percam importância, apenas de forma a manter a estabilidade de um certo status quo da nossa política ou de certas reputações das personagens que a compõem. É insano, e mostra acima de tudo uma infantil insegurança, dando privilégio a uma desnecessária narrativa, em sobreposição aos fatos históricos.

Em suma, seja na política ou na vida, todos nós temos crises, em diferentes fases do nosso tempo. Mas a escolher, ainda fico com a inocência dos vinte. Até porque essa, ao que parece, ainda posso festejá-la.

 

Fernando Costa,

Gestor de Comunicação e Representante da Juventude da Iniciativa Liberal de Braga

in Correio do Minho, 

23-Nov-2022

 

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