Onde estavas no 25 de Novembro de 1975?

A famosa pergunta do jornalista Batista Bastos, “Onde estavas no 25 de Abril?”, parodiada adrede por Herman José, serve de senha para o dia de hoje. Mas a entrada para a estreia do filme distópico que aqui se apresenta necessita da respetiva contrassenha, “onde estaríamos se a intentona de 25 de novembro de 1975 tivesse sido bem-sucedida?”

O pós 25 de Abril foi um período politicamente bastante atribulado, tendo inclusivamente   ocorrido em Braga inúmeros episódios de turbulência que confirmam a divisão social vigente no país e demonstram que a possibilidade da escalada de violência era possível, não sendo descabido falar sobre a possibilidade de termos entrado num estado de sítio e de guerra civil.

Apesar da criação literária de distopias ser pouco apetecível ao mercado livreiro, podemos criar uma versão de Portugal com o outro lado da História e, neste caso particular, o outro lado da História seria a dos derrotados e o da implementação dessa ideologia em Portugal. É difícil de conjeturar com a qualidade novelesca de um 1984 de George Orwell ou de Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, mas o sentimento que permanece é o da perceção de que na altura recrudescia uma enorme efervescência tribal em diversas regiões do país, o que muito facilmente poderia ter descambado no sucesso de um golpe de estado, quiçá bastante sangrento.

Imaginemos que o golpe falhado de 25 de Novembro tinha sido bem sucedido. Imaginemos que o COPCON assumia o controlo do país. Que o Presidente da República anuía com esse cenário dado o caos governativo resultante da falta de comando do governo e o controlo dos regimentos, escolas de cavalarias, paraquedistas, etc.. Que o país se encontrava em total caos, tornando-se impossível garantir a ordem democrática, não havendo outra hipótese que não fosse aceitar que os golpistas conduzissem o país.

Imaginemos que a fação defensora do modelo soviético, tendo o controlo dos meios de comunicação e os principais grupos das Forças Armadas, aprovava o afastamento do “Grupo dos Nove” do Conselho da Revolução, conselheiros moderados que haviam salientado estar terminantemente contra o modelo de socialismo de Leste da Europa. Imaginemos que, num golpe de teatro, teríamos eleito um líder do país com 100% dos votos do novo Comité Central!

Imaginemos que se concretizavam de imediato as restantes nacionalizações de empresas e bancos (pouco restava na altura) e que se implementava a ocupação total de quintas e herdades, finalizando essa utópica reforma agrária em curso.

Imaginemos que os descontentes e os defensores de outra política para o País se concentravam no Norte e daí iniciavam uma luta de contrarrevolução que iria redundar num entrincheiramento e numa mais que provável guerra civil. A queda do regime espanhol cinco dias antes, com toda a indecisão do país vizinho, poderia ter como consequência outro rumo e teríamos uma Península Ibérica em ebulição total.

Imaginemos que a NATO e o Pacto de Varsóvia avançavam militarmente para o terreno de modo a garantir os apoios às suas fações. Seríamos outro Vietname ou outra Coreia onde um paralelo e uma divisão teria destruído a unidade e integralidade de um País com 900 anos de história? Teríamos mísseis Soviéticos no Montijo e baterias antiaéreas da NATO na Serra do Pilar?

Seguir-se-iam organizações de resistência, presos políticos exilados em campos de trabalhos forçados e talvez tivéssemos a nossa própria Estrada de Kolimá. Seriam aprovadas políticas proibitivas de livros, filmes e da religião vigente. Teríamos gangues armados para o contrabando de álcool e tabaco, grassaria uma estrutura social crispada, teríamos fronteiras controladas e barricadas permanentes e um ensino instrumentalizado para a manutenção do novo regime totalitário.

Este evoluir errático e previsível teria como consequência o descalabro das nossas contas públicas com o definhar das contribuições Soviéticas cuja bancarrota se acentuou nos anos 80’. O FMI não financiaria o país e a fome estaria em cada esquina como um inimigo. O desespero levaria ao confisco de grandes produções de cereais para venda e a mobilização da mão-de-obra para a indústria militar seria quase total.

Imaginemos que chegávamos a 1989 a viver neste país indigente. Como sairíamos da queda do Muro de Berlim e do fim da URSS? Ficaríamos mais uns anos orgulhosamente isolados como Cuba ou finalmente festejaríamos outro 25 de Abril, abraçando a União Europeia?

Esta diegese criativa e efabulada, tem cirandado pela minha mente durante anos e não a vejo apenas como uma ficção, mas antes como o anverso da História que verdadeiramente nos aconteceu. Estou tão convencido da importância da comemoração deste dia, e da necessidade de homenagearmos várias figuras nacionais que aplacaram aquela deriva política, que o 25 de Novembro será em breve mais um feriado nacional.

Por isso hoje, 25 de Novembro, um liberal passeia-se por Braga (na idolátrica) entrando solteiro e a sair comprometido com esta bela data.

 

Sergio Gomes, Licenciado em Geografia e Planeamento e Mestre em Engenharia Urbana ,

 in Diario do Minho,

25/11/2022

 

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