Nem morto nem enterrado

Há uma semana, António Costa declarou que o assunto da contratação de Sérgio Figueiredo estava morto e enterrado. Como veio a demonstrar-se, estava redondamente enganado.

O assunto não estava encerrado quando o primeiro-ministro proferiu essas declarações nem está agora, mesmo depois da renúncia de Sérgio Figueiredo. Mas, independentemente da necessidade de aprofundar o esclarecimento da relação de Figueiredo com o poder socialista e das consequências políticas do que vier a apurar-se, há já três conclusões que se podem tirar deste lamentável episódio:

1 - O PS não aprende. Primeiro, foi incapaz de renovar-se, tendo incluído vários socráticos no Governo, numa demonstração óbvia de falta de respeito pelos portugueses. Depois promoveu uma situação de nepotismo declarado com dezenas de relações familiares dentro do próprio executivo. Agora persiste em nomeações que revelam uma inaceitável promiscuidade.

2 - António Costa perdeu o controlo do Governo. Há umas semanas, Pedro Nuno Santos aproveitou a ausência do primeiro-ministro para publicar o despacho dos dois aeroportos nas suas costas. Agora foi Medina, o outro delfim, quem fez uma nomeação tóxica sem que Costa disso tivesse conhecimento. A menos, claro, que o primeiro-ministro estivesse ao corrente de ambas as situações. Mas isso, naturalmente, constituiria um cenário ainda mais grave.

3 - Medina está extremamente fragilizado. Depois do episódio da partilha de dados pessoais sensíveis na Câmara de Lisboa, em que foi incapaz de assumir as suas responsabilidades, e de ter manifestado confiança política em Margarida Martins quando eram evidentes os abusos cometidos na Junta de Freguesia de Arroios, a nomeação de Sérgio Figueiredo, envolta em suspeitas de troca de favores, constitui uma nódoa adicional na imagem do ministro das Finanças.

Passaram apenas cinco meses desde que o XXIII Governo Constitucional tomou posse e o executivo de António Costa está já completamente esgotado, sem visão estratégica para o país, incapaz de promover um crescimento económico sustentado, com os serviços públicos totalmente degradados e, como esta nomeação veio demonstrar, preso aos piores tiques socialistas, como o nepotismo ou a confusão entre o aparelho do PS e o Estado.

A reacção de Fernando Medina à renúncia de Sérgio Figueiredo demonstra, todavia, que as coisas podem piorar. Incapaz de fazer um exercício de humildade, o ministro das Finanças declarou que compreende as razões de Figueiredo, legitimando assim o ataque que este fez a todos os que defenderam a transparência do processo de escolha de quem se candidata a funções públicas. Como se todos os portugueses que justamente se indignaram com todo este processo tivessem de pedir desculpas por terem ousado importunar o ministro das Finanças e o antigo director da TVI. Não é seguramente com estas manifestações de arrogância e de sobranceria que a actual solução governativa vai tornar-se mais credível ou mais eficaz.

 

Rui Rocha

Membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal

 in O NOVO,  Lynk

 21-Agst-2022

 

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