O algoritmo é a verdade, meus irmãos

Durante anos, os socialistas culparam Passos Coelho sempre que precisaram de desculpa para os seus insucessos. O decurso do tempo, todavia, tornou essa justificação completamente obsoleta. Depois de sete anos no poder, constituiria demasiada desonestidade intelectual, até para padrões socialistas, persistir em atribuir a responsabilidade de tudo o que de mau acontece ao antigo primeiro-ministro.

António Costa viu-se assim perante o desafio de encontrar outra solução que lhe permitisse continuar a descartar responsabilidades. É aqui que entra o algoritmo, utilizado em estreia pela secretária de Estado da Protecção Civil, a propósito da área ardida no Parque Natural da Serra da Estrela, mas que pode ser invocado a partir de agora sempre que for necessário.

O algoritmo é, na verdade, a ferramenta perfeita para a desresponsabilização que os socialistas tanto ansiavam. A primeira vantagem do algoritmo é que pode ser usado para quase tudo: “O algoritmo até previu que iam ser afectadas 16% das urgências do país, mas afinal só encerraram 10%”. Nem está a correr assim tão mal. E um algoritmo para a falta de professores não daria jeito? Daria, naturalmente. E vai dar, mais tarde ou mais cedo: “O algoritmo até previa 110 mil alunos sem professores, e afinal são só 80 mil”.

A segunda vantagem do algoritmo é que ninguém o conhece. As desculpas que recorriam a Passos Coelho podiam ser discutidas. O mérito do seu trabalho, ou a falta dele, são passíveis de análise, de pontos de vista diferentes. O algoritmo não. Do algoritmo só se sabe o resultado - e o resultado é a verdade que der mais jeito ao Governo.

A terceira vantagem do algoritmo é ser uma entidade exterior ao próprio Governo. Uma coisa é afirmar-se, por exemplo, que o ministro Pedro Nuno Santos prevê que, afinal, será necessário enterrar mais mil milhões na TAP até ao final do ano. É aborrecido o ministro Pedro Nuno Santos ficar com o ónus desta má notícia. Mas se o valor for calculado pelo algoritmo, pronto, é uma questão técnica. Não vamos agora virar-nos contra a ciência, não é verdade? Não somos malucos para andarmos por aí a contrariar a ciência, pois não? Pois não.

O algoritmo é a desculpa do Passos Coelho, mas em bom. O algoritmo tem aplicação praticamente universal, não tem prazo de validade, e baseia-se em rigorosos e inquestionáveis critérios científicos. Tem, todavia, uma limitação. Justifica falhanços, mas não transmite esperança no futuro. Permite sacudir a água do capote, mas só por si não entusiasma. Só que isso também tem solução. Basta que o ministro socialista que tutela a área declare que não só a coisa não correu tão mal como se previa, como até vai ficar melhor daqui por uns tempos. Foi precisamente o que fez Mariana Vieira da Silva relativamente à Serra da Estrela. Mas, perguntam-se alguns: não é preciso ter uma certa lata para o fazer? É, sim senhor. E então?

 

Rui Rocha

Membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal

 in O NOVO,  Lynk

 27-Agst-2022

 

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