A Santinha da Temideira

Maria da Conceição Mendes Horta, natural de Riachos, Torres Novas, conhecida como Santa da Ladeira do Pinheiro ou, mais simplesmente, como Santinha da Ladeira, falava com Deus e com santos desde tenra idade.

A última aparição aconteceu-lhe, de acordo com os relatos da própria, em cima de uma árvore, no agora longínquo ano de 1962. Mas já antes, e sofrendo de leucemia, a Santinha terá visto a estátua do Senhor dos Passos mover-se, circunstância que terá promovido a sua cura imediata. Cura imediata da própria Santinha, entenda-se, não a da estátua do Senhor dos Passos que, ao que se sabe, depois daquele episódio nunca mais se moveu, salvo nos contados casos em que uma rajada de vento mais forte a terá feito abanar.

Certo é que os extraordinários fenómenos que protagonizou atraíram milhares de devotos, convencidos de que o Céu estava mesmo ali à mão de semear, na Ladeira do Pinheiro, muitos dos quais mostravam o seu reconhecimento com dádivas em dinheiro, estátuas de santos, lápides e outras ofertas. A coisa foi de tal ordem que a Santinha reuniu meios financeiros que lhe permitiram mandar construir no lugar uma catedral e duas igrejas, nada mais nada menos. O culto veio a ser reconhecido, entre outras, pela Igreja Ortodoxa Búlgara Alternativa que não ficou por certo indiferente às curas e milagres que Maria da Conceição operava, com manifestas facilidade e destreza. Aliás, quando a própria Santinha faleceu no Hospital de Torres Vedras, não terão sido encontrados sinais de que tivesse padecido de leucemia, o que só confirma que ficou ela própria tão curada que foi como se nunca tivesse sofrido a doença.

Os feitos da Santinha da Ladeira foram de tal monta que tiveram de passar, entretanto, mais de 60 anos para que pudéssemos testemunhar, em pleno território português, algo de semelhante. De facto, Marta Alexandra Fartura Braga Temido de Almeida Simões, conhecida como Marta Temido, Santa do Largo do Rato ou, mais simplesmente, Santinha da Temideira, tem gerado em milhares de fiéis da Igreja Ortodoxa do Partido Socialista, agora que se anunciou a sua demissão, uma onda mística, um êxtase, uma vaga de devoção, só comparáveis com a que se viveu na Ladeira do Pinheiro e, eventualmente, com os frémitos e suspiros que se ouvem quando António Costa experimenta um novo champô para o cabelo.

Pelo visto, além de outras incontáveis façanhas, como fazer luz onde antes só havia trevas, conduzir correctamente em rotundas, assegurar tempo quente para os desfiles de Carnaval e garantir a abertura da estrada da Torre quando neva na Serra da Estrela, a Santinha da Temideira aplicou as suas capacidades curativas para deixar, com as suas mãos predestinadas, um Serviço Nacional de Saúde perfeito, sem falhas, único e milagreiro. Todavia, este e os outros fenómenos religiosos precedentes têm as suas diferenças. As experiências místicas dos séculos passados iniciavam-se durante a infância dos protagonistas, como aconteceu com a própria Santinha da Ladeira. Esta de agora depende, sobretudo, de que sejamos nós a deixar que nos tratem como crianças.

 

Rui Rocha

Membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal

 in O NOVO,  Lynk

 03-Set-2022

 

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