– Eu faço tudo o que for preciso!
Foi há dez anos, no Verão de 2012, que a Europa legalizou a prostituição, com esta declaração de Mario Draghi. O presidente do Banco Central Europeu (BCE) anunciou que nenhuma lei poderia sobrepor-se ao objectivo de satisfação das necessidades das mulheres e dos homens europeus.
E assim foi, pois desde esse momento, tem vindo a ser cometido aquilo que era considerado como um pecado capital: a compra de dívida pública dos estados-membros da Zona Euro por parte do BCE.
Um ano antes, no dia 6 de Abril de 2011, o nosso primeiro-ministro anunciava que só nos restava pedir auxílio financeiro, pois não havia dinheiro para pagar as contas, e Portugal estava a dias de declarar a bancarrota. Desde o início do ano que o Estado português já estava a pagar mais de 7% de juros nos empréstimos que ia pedindo, e a taxa de juro não parava de aumentar. Mesmo com o auxílio da Troica e a implementação das fortes medidas de austeridade negociadas pelo governo do Partido Socialista (PS), quem tinha dinheiro para nos emprestar, tinha sérias dúvidas que o Estado português conseguisse pagar as dívidas. E, por isso, a taxa de juro chegou a 13,85% em Janeiro de 2012.
Foram as atitudes do BCE e esta declaração de legalização da prostituição, bem como o exercício da própria prostituição, que baixou a taxa de juro do Estado português para níveis perto do zero: 0,03% no final de 2020 e início de 2021.
Mas eis que o BCE declara que já chega. A compra de dívida pública vai parar neste Verão. E juntamente com o fim desta política, vem também a necessidade de subir as taxas de juro para combater os vícios criados com uma prostituição de dez anos: o pornográfico excesso de dinheiro na Zona Euro!
Aqui chegados, impõe-se uma pergunta:
– Como é que as mulheres e os homens europeus vão conseguir satisfazer as suas necessidades daqui em diante?
A verdade é que não existe nenhum mecanismo automático de subida das taxas de juro para conter a inflação. O BCE é que decide se, quando e quanto é que as taxas de juro vão subir. E pode adiar as medidas a tomar, bem como tomar medidas abaixo do necessário para conter a inflação nos 2% – o objectivo estabelecido desde a criação do Euro. Aliás, neste momento, já é um facto que a inflação vai passar em muito este valor em 2022, ao que vai acrescer também uma subida das taxas de juro.
Consequências?
As mulheres e os homens europeus vão ter grandes dificuldades em satisfazer as suas necessidades com o fim da prostituição do BCE. E uns terão mais dificuldades que outros, pois os cidadãos de alguns países vão ver os seus salários e as suas poupanças perder muito terreno para a subida dos preços. E também porque o nível de endividamento é muito superior ao dos seus parceiros.
Em Portugal, já sabemos que os salários e as pensões vão perder muito poder de compra. E tendo em conta o nível de endividamento do Estado, basta uma pequena subida das taxas de juro para os juros absorverem valores exorbitantes dos impostos cobrados. Por isso, desengane-se quem julgava que finalmente o governo PS iria baixar a carga fiscal, depois de em 2021 ter batido o recorde do maior valor de todos os tempos.
Calma!
Os portugueses são um povo guerreiro. Descobriram meio mundo e conseguiram sobreviver a três bancarrotas do PS. De certeza que vão conseguir ultrapassar este desafio.
VidaEconomica
05 Mai 2022