SOBRE IR BUSCAR DINHEIRO A QUEM ESTÁ A ACUMULAR

No último ano, em Portugal, um trabalhador licenciado ganhou mais 8500 euros que um trabalhador com o ensino básico e mais 6000 euros que um trabalhador com o ensino secundário[1]. No ano anterior, a diferença foi semelhante, tendo sido já bem maior no passado.

Fonte: Eurostat

Não há dúvida que obter um grau no ensino superior, compensa em termos de remuneração para o resto da vida. Por exemplo, 6000 euros por ano, durante uma vida activa de 45 anos, representa um valor acumulado de 270 000 euros. E compensa, não só para a pessoa que obtém o grau académico, como compensa para toda a sociedade, pois a riqueza que essa pessoa vai produzir, será superior relativamente ao que produziria se se ficasse apenas pela instrução do ensino secundário ou básico.

Por isso, justifica-se que a sociedade contribua para a formação de todas as pessoas que tenham capacidades e vontade para prosseguir os seus estudos ao nível superior. Comparticipando nas despesas das instituições de ensino superior, de forma a que as propinas tenham um valor acessível a essas pessoas. E quando a família do estudante não possui rendimentos suficientes para, mesmo assim, suportar os estudos até aos 21 ou 23 anos, ou mais, também é justo que haja uma comparticipação da sociedade no sentido de permitir essa oportunidade.

A oportunidade de a pessoa vir a ganhar, em média, mais 270 000 euros[2]. Claro que em alguns casos, tal não se verificará, mas noutros, o acréscimo será muito superior.

E é neste momento que importa reflectir novamente sobre este assunto.

As despesas de educação de um estudante no ensino superior privado, estão estimadas em cerca de 28 500 euros para três anos, o que inclui 10 500 euros de propinas e matrículas[3]. No ensino superior público, o valor máximo de propinas e matrículas de uma licenciatura, está definido em cerca de 2200 euros. Relativamente ao ensino superior privado, há uma diferença de 8300 euros, valor que podemos tomar como a comparticipação da sociedade para que um estudante possa obter um grau académico superior.

Consideremos ainda os rendimentos que o estudante vai perder por trabalhar menos três anos: cerca de 39 000 euros em três anos. Então, o custo total de uma licenciatura é de 67 500 euros para obter um acréscimo de rendimentos de 270 000 euros. Dos quais, a sociedade (todos nós), suporta 8300 euros.

Aqui chegados, já percebemos que o valor das propinas actualmente suportado pela sociedade para que um estudante possa ter um grau académico, é uma ínfima parte do rendimento que o grau académico vai proporcionar-lhe durante a sua vida activa: 3%. Já para não falarmos na melhoria da qualidade de vida em termos de realização no trabalho desempenhado, satisfação pessoal e outras questões.

Será justo que todos nós tenhamos de SUPORTAR SEMPRE os custos das propinas de todos os estudantes do ensino superior, sabendo que isso irá proporcionar-lhes um ganho de 210 800 euros?

Será que o estudante não pode abdicar de 8300, desses 210 800 euros, devolvendo à sociedade aquilo que ela lhe financiou? Ficando assim com um ganho de “apenas” 202 500?

E se tivermos em conta que todos nós tivemos um custo com a formação de uma pessoa que vai produzir riqueza fora da nossa sociedade, isto não será um motivo acrescido para que essa pessoa deva liquidar a sua dívida?

Tal como referido anteriormente, são valores médios. Haverá casos em que os estudantes não conseguirão este acréscimo. E esses casos devem ser salvaguardados: o estudante só pagaria a partir do momento em que o seu rendimento ultrapassasse um determinado nível!

À boa maneira comunista: “Temos de perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular”.

 

VidaEconomica

25, Mar 2022

 

[1] Fonte: Eurostat; último ano disponível: 2020.

[2] Vamos simplificar, e adoptar uma idade de reforma de 70 anos para um jovem actualmente com 18 anos.

[3] Fonte: CESTES 2 (2018). Apesar de ter quatro anos, a tendência apresentada no mesmo relatório é de diminuição das despesas, principalmente devido à diminuição do valor das propinas.

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