Permita-me o leitor o uso da memória recente, quando os últimos anos não foram propriamente de total alegria, e voltemos a 2017. O termo “liberal” era ainda uma raridade linguística, talvez um peregrinismo até, considerada quase uma palavra proibida, que nos remetia automaticamente para uma decrépita ideologia libertária, anarquista, que só poderia ser mencionada se fosse suficiente baixinho,
como se um sussurro se tratasse, para não despertar quem pudesse eventualmente ouvi-la. Para os leitores mais jovens, diria que o termo “liberal” era o “Voldemort” da política portuguesa (isto no mesmo território onde a imagem de um martelo e de uma foice já não melindra de igual forma, curiosamente).
Passemos então para o ano de 2021, em período de eleições presidenciais. Muita coisa mudou desde então. O termo liberal foi gradualmente esmiuçado e desobscurecido aos portugueses – e muita dessa transmutação deve-se ao contributo de Tiago Mayan – em que estes – ou a maioria deles – perceberam que ser “liberal” não se tratava afinal de uma mortífera chave de acesso aos portões da obscuridade, mas sim apenas de uma posição social e política ligeiramente diferente (possível uso de eufemismo aqui) do espetro político português. Atentado a este pequeno crescimento de uma ideia que entretanto já se tinha tornado bem mais do que isso, e já fora do seu anonimato, rapidamente o painel político português se apressou a passar da displicência para a imposição do medo com o que era já a “Iniciativa Liberal”.
Enquanto um dos lados procurava essencialmente, e de todas as formas, associar o partido a princípios radicais em que ele só se diferenciava do conceito do Chega nas cores partidárias – e que o continuará a fazer nos próximos quatro anos – um outro lado procurava fazer regressar os papões mitológicos do liberalismo, recorrendo até a panfletos distribuídos em escolas de norte a sul do país. E, por fim, ainda há um lado que recorreu a primas e cocktails, mas que efetivamente não se percebeu muito bem a sua intenção.
Voltando ao presente. A Iniciativa Liberal, desde o primeiro momento nesta pequena cronologia, passou de um suspiro, para um projeto, e de um projeto, para um partido. A nível representativo, possui hoje um grupo parlamentar, passando a ser, neste momento, a quarta maior força política. Como é de esperar, quem sente o seu espaço político a dissimular-se de forma vertiginosa, vai certamente redobrar as acusações e a sua imposição do medo, por tudo que seja via comunicativa em Portugal. Alerto inclusive ao leitor para o repetido uso dos seguintes termos no próximo trimestre: “neoliberal”, “anarquia”, “chega”, “extrema-direita”, “racistas”, “ricos”, “privilégio”. Se for ao Twitter, é muito provável que um desses termos esteja nos assuntos do dia.
O que se pede a partir daqui, numa futura contextualização do partido? Inteligência. A astúcia de não ceder à cansativa associação ao extremismo e à radicalização por parte da esquerda, com a apresentação de medidas concretas e de real mudança (como tem já acontecido), com a contínua agregação do público jovem, e com um discurso frontal e sem demagogias, ilustrando de forma cada vez mais prática, que o liberalismo efetivamente funciona e faz falta ao panorama português.
Como estaremos em 2026 Iremos enfrentar finalmente a realização de uma profunda reforma no sistema político, do SNS e da carga fiscal portuguesa?
Entendemos que afinal há um caminho para o nosso próprio sucesso? Futurologias nunca foram propriamente o meu forte, mas enquanto jovem que ainda aspira a ter sucesso no seu país, espero honestamente que, tal como o termo “liberal”, que durante anos foi tão estranhamente diabolizado, possamos realmente falar de outro há tanto intencionalmente esquecido: o tal de crescimento económico.
Artigo de opinião de Fernando Costa, Gestor de Comunicação
BragaTV, Link
16, Mar 2022